terça-feira, 17 de agosto de 2010

Um pouco sobre Etnocentrismo

     Prezados amigos, segue pequeno texto à respeito do etnocentrismo:


Uma visão etnocêntrica é constituída no momento em que usamos nossos valores, modelos e definições pessoais ou de nossos grupos, como sendo o centro de tudo, ao passo que as demais sociedades passam a ser consideradas inferiores quando comparadas com os nossos valores subjetivos.

O choque do “Eu”, (sociedade que se acha “superior”, visão única e melhor possível) com o “Outro” (sociedade dita “inferior”, onde tudo é absurdo, insipiente, anormal), gera o fenômeno etnocêntrico que nada mais é que interpretação perante a presença das diferenças humanas.

O etnocentrismo proporcionou ao “Eu” traduzir a sociedade do “Outro”, forjando-a. Como diria Everardo Rocha “o etnocentrismo passa, exatamente, por um julgamento do valor da cultura do “outro”, nos termos da cultura do “Eu”.

No século XIX, os povos do continente europeu, baseados numa corrente do Positivismo, o Darwinismo Social, afirmavam que a sociedade evoluía linearmente, raciocínio que permitia a afirmação de que os índios das Américas eram verdadeiros “fosseis vivos” da civilização europeia, pois estes também já teriam sido “selvagens”, estando porém mais avançados ou evoluídos num grau de “civilidade”.

Tais concepções justificaram que os índios - considerados não pelos europeus não civilizados, selvagens, bárbaros, “qualquer coisa menos humanos” - fossem submetidos, à força das armas, a uma “Missão Civilizadora”, oportunidade em que eram obrigados a trabalhar a força.

Eis um dos aspectos preocupantes do etnocentrismo, fundamentar degradação de culturas diferentes, às vezes exterminando povos, como, por exemplo, o extermínio a que foram submetidos os índios Caingangue.

Tal fenômeno também ocorreu na época do nazismo, momento em que os ditos “arianos” consideravam-se superiores aos demais, invocando o nacionalismo extremista, causando, dentre outros desastres o genocídio praticado contra o povo judeu.

O antropólogo teuto-americano Franz Boas (1858/1942), teve importante participação no processo de ruptura do pensamento evolucionista social, passando destacar a importância de estudar as culturas nas suas particularidades, mudando o pensamento do “Eu”, de forma a permitir a reflexão da outra cultura, possibilitando que esta seja visualizada como uma alternativa social, e não uma ameaça.

A obra de Boas é importante referencial no processo de desvinculação da antropologia em relação à história, como bem aduz Everardo Rocha afirmando que “a antropologia se desvincula da história e parte para o estudo da sociedade do “Outro” sem se preocupar com o passado desta sociedade”.

A relativização cultural ganhou mais espaço, permitindo a procura de um saber mais profundo do “Outro”. Por sua vez, a complexificação do “outro” como objeto de estudo, trouxe também uma série de reflexões que relativizam os conceitos de culturas nos mínimos detalhes.

Entendemos que a antropologia ao relativizar o ser humano, buscando entender o “Outro”, torna-se uma das matérias mais importantes para o estudo do homem em toda a sua plenitude, como ser multicultural

 
ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é Etnocentrismo. São Paulo: Brasiliense, 2006.


Simonal Vanderley e Raul Teixeira Cavalcanti - paideienses