terça-feira, 18 de maio de 2010

O Brasil se constitui numa “democracia racial”?

Ilustres amigos, segue resumo comentado do livro O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil de Darcy Ribeiro. Gostaria que vocês o comentassem:
A nação brasileira é miscigenada, ou seja, há uma mistura de povos de vários continentes, entretanto, prevalece neste país, o enorme contingente negros e mulatos, que é, talvez, o mais brasileiro dos componentes de nosso povo, não existindo, em nosso país, negro africano ou branco reinol.
Vale a pena dizer que o povo brasileiro é um povo novo, feito de gentes vindas de toda parte, em pleno e dinâmico processo de fusão. Ocorrendo efetivamente uma “morenização” dos brasileiros, que se faz tanto pela “branquização” dos pretos, como pela “negrização” dos brancos. 
Entretanto, não é garantida a democracia racial a todos os brasileiros, pois esta não se resume apenas ao direito de votar e ser votado. Este aspecto é apenas um dos pontos democráticos. No Brasil, o que de fato existe é um "racismo assimilacionista" que faz com que o negro adquira os comportamentos brancos, incorporando-se a cultura ocidental, sem ter sua identidade cultural efetivamente respeitada. Assim, nossa sociedade adquire um aspecto de democracia, quando na verdade o processo citado acima só faz com que o negro não perceba as violências sociais que sofre e das quais somente através da revolução cultural/social poderá se livrar. 
Ao passo que muitos não percebem a realidade, a maioria dos analfabetos e das vítimas de crimes violentos letais intencionais (homicídios, latrocínios), são negros. Fatos que traduzem a ineficácia da sociedade brasileira no cumprimento das normas constitucionais programáticas, ou seja, aquelas que têm como fim estabelecer diretrizes que devem ser o perseguidas pelo Governo, no sentido de tornar a sociedade mais justa humana e solidária.
A respeito disso, Darci Ribeiro afirma que "a forma peculiar do racismo brasileiro decorre de uma situação em que a mestiçagem não é punida mas louvada. (...) Essa situação não chega a configurar uma democracia racial, como quis Gilberto Freyre e muita gente mais, tamanha é a carga de opressão, preconceito e discriminação anti-negro que ela encerra”. Não o é obviamente, porque a própria expectativa de que o negro desapareça pela mestiçagem é um racismo. 
Na opnião de Darcy Ribeiro, o racismo assimilacionista praticado no Brasil é pior que o Apartheid: “o apartheid induz a profunda solidariedade interna do grupo discriminado, o que o capacita a lutar claramente por seus direitos sem admitir paternalismos”; já no Brasil, dilui-se a negritude numa vasta escala de gradações de tons de pele e de elementos culturais, que quebra a solidariedade, reduz a combatividade, insinuando a ideia de que a ordem social dominante é uma ordem natural, senão sagrada, e, portanto, o negro perde sua identidade sob a influência dessa força alienante.  
Portanto, somente quando alcançarmos esse objetivo de diminuição das desigualdades, teremos uma real democracia racial.


Simonal Wanderley - paideiense


Fonte: Ribeiro, Darcy 1922-1997. O povo brasileiro: A formação e o sentido do Brasil/Darcy Ribeiro – São Paulo: Companhia das Letras, 2006.